Quinta-Feira, 27/04/2023 - 20h45
Por Camila São José / Lula Bonfim
A defesa dos pastores Fernando Aparecido e Joel Miranda, ambos da Igreja Universal do Reino de Deus, afirmou, durante o júri popular na noite desta quinta-feira (27), que o assassinato do garoto Lucas Terra — ocorrido em 2001 — foi cometido apenas pelo também pastor Sílvio Galiza, já condenado pelo crime.
O advogado Carlos Humberto Fauaze Filho não negou a existência de um crime bárbaro, mas garantiu que tanto Fernando quanto Joel são inocentes. “Peço que vossas excelências não confundam a certeza do crime com a certeza de quem os praticou”, afirmou o defensor.
Como estratégia de defesa, os advogados mostraram novamente o vídeo em que Galiza delata Joel e Fernando. Para Fauaze Filho, o pastor condenado demonstra “falta de espontaneidade” nas declarações.
“Vossas excelências estão sendo convidadas, pela acusação, a acreditar em um homem que matou uma criança de 14 anos”, disse Fauaze. “Eles [Fernando e Joel] estão aqui porque é a forma conveniente de preencher uma lacuna”, afirmou.
Fauaze ainda questionou o motivo do Ministério Público da Bahia (MP-BA) não ter denunciado também o pastor Beljair, já que o mesmo era o titular da igreja da Santa Cruz e conhecia todos os envolvidos no caso.
“Porque esse energúmeno [Galiza] não falou o nome de Beljair. Porque, se tivesse falado, ele [Beljair] estaria aqui”, argumentou. “A convicção do Ministério Público vem do que esse energúmeno fala”, criticou Fauaze.
Para o advogado, não há provas concretas das supostas participações de Fernando Aparecido e Joel Miranda no crime. “Prova, eu vi contra Sílvio Galiza”, disse Fauaze, lembrando que foi Galiza quem saiu com Lucas Terra na noite do crime e também foi visto por testemunhas ao lado do garoto.
A tentativa de desqualificação de Galiza foi a principal estratégia de Fauaze, que se referiu ao pastor condenado, por diversas vezes, como “canalha”, “mentiroso” e “energúmeno”.
Para o defensor, é provável que uma terceira pessoa estivesse envolvida no crime, mas este não seria nem Joel nem Fernando. “Mas, por conta dessa investigação tresloucada, ela vai sair livre”, lamentou.
“A defesa entende a dor dos amigos, entende a dor de dona Marion”, disse Fauaze, que ainda ponderou. “Não é a condenação de dois inocentes que vai aplacar a dor de quem ficou. Pelo contrário, será mais uma injustiça para coroar a desgraça que esse homem já fez”, concluiu.
SEGUNDO DEFENSOR
No momento da sua explanação, o outro advogado dos acusados, Nestor Nerton Fernandes Távora Neto, lembrou a decisão judicial da juíza de primeiro grau, proferida em 2013, de que não havia provas suficientes para atribuir a autoria ou a participação de Fernando e de Joel no assassinato de Lucas Terra. “A denúncia pauta-se tão somente em partes do depoimento de Silvio Galiza”, disse a magistrada na época.
Távora Neto lembrou que Galiza apresentou cinco versões diferentes sobre o caso Lucas Terra e que o MP-BA já havia trazido dois relatos. “E, se eu não me engano, aqui no plenário hoje, o senhor [Davi Gallo] trouxe a terceira [versão]”, apontou o advogado.
Segundo o defensor, o MP-BA “colheu as provas às escondidas”, se referindo à gravação do vídeo de Galiza. “Isso é um depoimento? Dentro da cadeia, não é um depoimento”, argumentou Távora Neto.
Questionados pelo promotor Ariomar José Figueiredo da Silva de por que não arrolaram Galiza como testemunha, já que ele é tão importante para a construção da estratégia de defesa, os advogados responderam que chamaram para testemunhar apenas aqueles que falam a verdade.
“O Ministério Público fala na denúncia coisas que nem o Galiza falou”, disse Távora Neto, sobre a versão de que Lucas Terra teria o pastor Fernando Aparecido como uma espécie de mentor espiritual, um exemplo religioso.
Távora Neto ainda classificou o júri como uma inversão de valores, porque a defesa trouxe inúmeras provas para provar a inocência dos réus e o MP-BA não teria apresentado nada além do vídeo de Galiza delatando os pastores. Para ele, a acusação se apoiar apenas nisso para pedir a condenação de Fernando e Joel é uma demonstração de “desespero”.
O advogado disse também que, nas alegações iniciais, o MP-BA apontou como motivação do crime um possível desejo sexual dos pastores em Lucas Terra e, nas alegações finais, teria mudado a versão, alegando que o garoto foi morto porque teria flagrado Fernando e Joel em um ato sexual.
“Eles [Fernando e Joel] estão há 16 anos com uma espada na cabeça. Onde andam, são apontados como pedófilos, como assassinos”, concluiu Távora Neto.
Por Miranda News Fonte Bahia Noticias
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