por Leonardo Vieceli | Folhapress
Com a recente alta do petróleo no mercado internacional, os preços da gasolina e do óleo diesel ficaram defasados no Brasil, e a Petrobras deveria anunciar aumentos, avalia Sergio Araújo, presidente da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).
"Na nossa visão, a Petrobras deveria anunciar reajustes na gasolina e no diesel para que seja coerente com a política de precificação implantada", afirma.
"Se você observar, há poucas semanas, quando teve queda no mercado, a Petrobras ajustou os preços para baixo quase semanalmente", acrescenta.
As cotações do petróleo e a taxa de câmbio são pilares da política da estatal. Neste mês, a commodity engatou alta com o anúncio do corte de produção pela Opep+, que reúne os maiores exportadores do mundo. O cenário de oferta reduzida levou as cotações para cima.
A Petrobras, contudo, tem evitado reajustes nas refinarias às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais. Como mostrou a Folha de S.Paulo, fontes da empresa relatam pressão do governo para evitar notícias negativas até o fim da disputa. O temor é de prejuízos à campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nesta quarta-feira (19), o valor médio da gasolina nas refinarias brasileiras estava 5% abaixo da paridade de importação, segundo a Abicom. A defasagem em relação aos preços internacionais correspondia a R$ 0,18 por litro.
Essa diferença era ainda maior na semana passada. Chegou a tocar em R$ 0,43 na sexta (14). O conceito simula quanto custaria para importar o produto dos fornecedores mais próximos.
De acordo com a Abicom, o preço da gasolina no Brasil está abaixo do praticado no exterior desde 4 de outubro. Ou seja, já são mais de duas semanas nessa condição.
A defasagem é ainda maior no caso do diesel. Ficou em 12% nesta quarta, ou R$ 0,70 abaixo da paridade, segundo a entidade.
A diferença chegou a bater em R$ 0,97 na sexta. O diesel também mostra defasagem desde a primeira semana de outubro.
Consultada sobre o assunto, a Petrobras disse que, por questões concorrenciais, não pode antecipar decisões sobre manutenção ou reajuste de preços.
"O monitoramento das cotações é feito diariamente e a decisão de atualizar os preços é integralmente técnica", afirmou a companhia em nota.
A Petrobras teve papel de destaque às vésperas do primeiro turno das eleições. Na ocasião, a estatal confirmou cortes de preços quase semanalmente em meio à trégua das cotações do petróleo. As notícias foram comemoradas pela campanha de Bolsonaro.
Agora, com a valorização do petróleo, as quedas foram interrompidas. Enquanto isso, a maior refinaria privada brasileira, a Refinaria de Mataripe, na Bahia, aumentou no sábado (15) seus preços de venda da gasolina e do diesel.
Foi o segundo aumento após o corte de produção da Opep. A refinaria é controlada pelo fundo árabe Mubadala.
Após 15 baixas, a gasolina voltou a subir nos postos brasileiros na semana passada, conforme pesquisa da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). O combustível foi vendido a R$ 4,86 por litro.
Para Sergio Araújo, da Abicom, o viés é de alta para os preços do petróleo, o que tende a seguir pressionando a Petrobras. "O principal impacto é o anúncio da Opep, já que diminui a oferta e a demanda permanece."
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